Nascer com um corpo que não corresponde aos sentimentos mais profundos de quem o habita não tem de ser uma sentença para uma vida de sofrimento. Ser homem, mulher ou pertencer a um terceiro género que não se encaixa na definição mais restrita é, cada vez mais, uma possibilidade. Na Tailândia, todos os anos, milhares de pessoas realizam cirurgias de mudança de sexo, maioritariamente homens que procuram ter um corpo feminino. Nas melhores clínicas do mundo chegam sobretudo norte-americanos, australianos, italianos e chineses. Poucos tailandeses têm dinheiro para aceder a essas clínicas, recorrendo a hospitais públicos, sujeitos às suas limitações, e tomando hormonas que se podem comprar em qualquer farmácia ou mercado de Banguecoque.

Para muitas pessoas transgénero, o processo é longo e os traços visíveis denunciam-no: o pomo-de-adão, as mãos, a voz. No Golden Dome Cabaret Show, os quatro espetáculos diários, com mais de 200 espectadores, ajudam 37 “ladyboys” ou, em tailandês, “kathoey” – mulheres que ainda conservam o pénis – a ganhar dinheiro suficiente para se tornarem mulheres completas.

As zonas de Nana Plaza, Pat Pong e Soi Cowboy estão repletas de bares de prostituição, onde estas “ladyboys” satisfazem as fantasias de muitos clientes estrangeiros para conseguirem pagar a operação final, terminar os estudos e enviar dinheiro para as suas famílias. A oferta é imensa: em cada bar trabalham dezenas de “ladyboys”, muitas delas ainda adolescentes, e os grupos que as controlam não deixam margem para negligência ou falhas. Para escapar a estas regras apertadas, muitas acabam por escolher trabalhar na rua.

Apesar da tolerância da Tailândia em relação aos transsexuais e a este terceiro género, as “ladyboys” estão quase exclusivamente destinadas ao sexo e às profissões ligadas ao entretenimento, contribuindo para o turismo do país e para os elevados números de VIH: cerca de 450 mil infetados em 2013, segundo o Ministério da Saúde Pública.