Os comboios são a espinha dorsal da Índia. Ligam aldeias e megacidades, transportam trabalhadores e estudantes, atravessam planícies e montanhas. Os atrasos fazem parte do caminho. Uma rota de doze horas pode transformar-se em vinte. Em apenas um mês percorri 6.797 milhas, cerca de 10.940 quilómetros, para sentir o país ao ritmo das suas carruagens.

Viajar de comboio na Índia é entrar num país que cabe dentro de uma carruagem. Há silêncio e conversas, calor e chá chai acabado de fazer, vendedores a passar entre os lugares, bagagens presas nos suportes e um fluxo constante de pessoas. O plano mais sábio é não ter um plano rígido. Os atrasos acontecem, os horários esticam e a viagem escreve-se sozinha.

As classes moldam experiências diferentes. O AC 2 Tier tem ar condicionado e beliches duplos com cortinas para alguma privacidade. O AC 3 Tier mantém o ar condicionado e oferece seis beliches por compartimento. O Sleeper é aberto, sem ar condicionado, com seis beliches e o compasso da noite. A Second Class tem bancos duros e lugares não reservados. O Chair Car dispõe de filas de assentos para percursos diurnos. Em todas elas se encontram histórias e encontros.

O Sleeper e a Second Class aproximam-nos mais da Índia quotidiana. Conversas por gestos quando o inglês falha, perguntas simples que abrem portas, partilhas espontâneas de água e comida picante. Portas abertas nas estações, o ar a correr pelas janelas, assentos que se transformam em camas e a sensação de que o país se expande ao ritmo do comboio. Tarde ou não, o comboio chega. E quando chega, levamos sempre mais do que trouxemos.